ela me encara do assoalho
há trinta centímetros da minha cama
o pânico não me deixa dormir
mas não posso matá-la
por questões de evolução moral
(tentativa de)
em uma análise distraída
reparo que se impregnou nos meus lábios
o gosto de uma bochecha familiar
as mãos começam a tremer
(o problema em encarar crises com naturalidade
é convencer terceiros de que elas são naturais)
custo a me fazer acreditar
que não estou repetindo
um ciclo de merda
mordo um dedo aleatório
"inspira o ar, fundo,
e não expire na cara de ninguém"
busco meia dúzia de palavras
para tentar escrever um comunicado rápido
mas o receio pelo olhar alheio
esfarela o grafite do lápis cotoco
sangue se espalha por entre os dentes
o frio faz os caninos se chocarem
trava os molares
a gengiva seca
(o dilema em crises repentinas
é acharem que as causas são repentinas)
espio o chão novamente
e os oito olhos avançaram
ofereço o meu pulso
sem dó, ela me diz oi
e em cinco segundos
vejo cinco mil sorrisos
catatônicos
demoníacos
receptivos
aquele um,
que dói na consciência
mas agora eu ao menos
consigo dormir umas duas horas
mesmo sabendo que o carteiro vem.
unt.
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