três atos antes do hiato




i)

nos meus 9 anos
concluí que a cura para a aids viria
do plutônio
ainda lembro

esqueci pouca coisa:
as relevantes
(fórmulas, fotos
bolos, carinhos
e meus quatro primeiros anos)

sonhava demais
já me via no futuro
e eu era menos feio lá

namorava garotas imaginárias
mas jurava que não namoraria
jamais iria me casar
(embora nessas projeções
 nunca me encontrasse sozinho)


tudo mudou
nada mudei
todo mundo
mudo
-

ii)

sonhos viram objetivos
objetivos viram falhas
falhas são etéreas
falhas são
eternas
eternas
eternaseternaseternaseternaseternaseternaseternas
eternaseternaseternaseternaseternaseternaseternaseternaseternaseternaseternaseternaseternas
eternaseternaseternaseternas

não estou culpando vocês
sou ruim escrevendo, compondo, desenhando, transando
sou ruim pra ser ruim
e quem dera fosse autocomiseração
porque ao menos daria pra encaixar
na seção dos românticos

conformismo?
mas assim, tão mutável
tanta sinapse inútil
pra jogar a toalha
tanta sinopse trabalhada
pra disfarçar essa corcunda?



oãçidartnoc a
na contramão

iii)

referências egoístas que
só o autor entende
e que no fim soam tão idiotas
quanto mensagens anônimas
com elogios para mulheres
ou mesmo conhecidos
(filantropia é uma riqueza, é bonito
se você for bonito
se você for rico)

só que o curtir com o jóinha
não é uma emoção
diferente dessa minha arrogância
que me tornou personagem virtual

agradeço, porém
o agrado

isso tudo nunca foi pra mendigar atenção
peço perdão pelo egocentrismo

preten
ocioso

hoje sei que plutônio é radioativo
e que não se evita a destruição de uma pessoa
transferindo os danos à outra

esperar coisas é esperar à toa
esperar chance a hora e a vez
esperar
significar
significar algo bom pra alguém

os risos começam, outra vez


fim.







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