um ano depois

fiz esse texto ano passado, depois que minha avó veio a falecer.

ficou nos rascunhos porque... sei lá.

que descanse em paz.

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quando o telefone toca às 4 da manhã, coisa boa não é.

se o castigo vem a cavalo, a morte vem por telefone,
a qualquer instante e lugar.
tocando muito alto
ou vibrando devagar.
o ritmo sempre p ert urb a


dez horas depois, você está ali,
em frente ao corpo
pálido e sem vida.
o telefone ainda ecoa na sua cabeça,
mas agora não dá mais pra atender.

faz-se a tortura mental
pensando no que poderia ter sido dito
ou o que deixamos de dizer.
mas não dá pra falar mais nada (se tentar, não sai).
o silêncio resume tudo,
e não cessa.

desejam sentimentos, pêsames, força.
mas só quem poderia oferecer o conforto que todos desejam está ali,
no caixão

florido como a última primavera passada em família
e mais frio que o inverno lá fora.

reencontros acontecem aos montes
ninguém se sente feliz: perante o cadáver,
não existe o mais velho,
o mais bonito,
ou o mais gordo.

é chegada a hora:
uma prece
uma caminhada
uma vista cinzenta
uma vida encerrada

então você vai pra casa,
colocar a cabeça no travesseiro,
relaxar, ver tv.
afinal, você está de férias
e dirigiu por aí o dia todo.
é sábado.

e então o telefone toca.

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